terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O "EU" FANTASMA

http://speckyboy.com/2009/01/07/29-really-creepy-and-creative-photoshopped-self-portraits/


Título original: “The Phantom Self”, escrito por: Chuan Zhi Shakya
www.hsuyun.org
Tradução: Fa Jing (Marcelo Ferreira)


Qualquer um que tenha passado muito tempo lendo sobre o Zen já encontrou o termo “Eu” muitas vezes. Alguns podem então concluir que Zen refere-se ao “Eu”. Isso pode não estar errado. Enquanto algumas pessoas pensam que Zen é ficar sentado na postura de Lótus, contemplando o espaço entre um pensamento e outro, outros interpretam o Zen como um caminho que leva ao conhecimento do “Eu”. Um Caminho que não depende absolutamente de método algum. Sim, nós nos sentamos em almofadas por horas, pernas cruzadas, corpo ereto, mas relaxado... porém não para adentrar o Zen. Nós fazemos isso para mergulhar no “Eu” e emergir com o “Eu”. Minutos, horas, dias...o tempo desaparece quando estamos unificados com o Ser, o qual é a essência primordial. Aqui não há Zen e não há “eu”. Há apenas Ser. Não há observador, nem observado. Apenas o observar.

Imagine-se indo ao cinema. Você entra no salão numa noite de sexta-feira e há muitas pessoas lá para verem o filme. Algumas com o namorado, algumas solitárias, algumas com a família. O aroma de pipoca e cachorro-quente permeia o ambiente completando a experiência de “ir ao cinema”, até que...o filme começa. Supondo que seja um bom filme e que possamos prestar atenção, após pouco tempo estaremos tão imersos nas cenas, nas personagens e na música que esqueceremos onde estamos, o que estamos fazendo e mesmo o porquê de estarmos lá. Estamos imersos no filme. Quando o filme acaba, olhamos no relógio e vemos que muito tempo se passou: quase duas horas! Deixamos, então, o salão e já está escuro lá fora. Mas estava ensolarado quando entramos! Estamos temporariamente assustados com isso. Não apenas o tempo parece ter se modificado em nós de alguma forma, mas sentimos que um período de nossas vidas simplesmente desapareceu. Voltamos, então, a pensar sobre o filme e revivemos a aventura que vivemos enquanto a assistíamos e tudo parece normal de novo. Um medo temporário de separação do “Eu” é, então, reparado.

Meditação é como ir a um filme... mas não um filme qualquer. É um filme muito, muito bom! Não é um filme de suspense que faz seu coração acelerar. É algo mais envolvente do que isso. Imagine o seu ser, a sua essência, separada de si mesmo. Imagine seu ser flutuando em um rio, saltando sobre as rochas, sobre os troncos. Imagine-se virado do avesso e tudo o que estava escondido se torna exposto. Imagine o seu ser sem uma história. Sem mãe, nem pai. Sem a experiência traumática no colégio, quando seu professor te envergonhou na frente da classe. Neste filme você está tão separado de si mesmo que não há nada mais do que se separar. Isto é meditação.

Há dois “Eus” na vida de um ser humano. Um é o “eu” que pensamos ser. O outro é o “Eu’ que realmente somos. A única diferença entre os dois é que um é concebido. E o outro está apenas lá. O “eu” concebido está lá apenas quando pensamos nele (obviamente!). É um fantasma que surge ao nosso chamado, mas ausente de outra forma. O outro ‘Eu” está lá o tempo todo. Podemos contactá-lo ou ignorá-lo, mas, de qualquer forma, ele está lá. É por isso que no Chan nós colocamos este “Eu” com letra maiúscula. Ele existe quer estejamos cientes disso ou não. Como Deus.

Zen é sobre encontrar o “Eu” e permanecer nele. Tudo o mais além disso não é Zen.

Como você saberá quando encontrar o “Eu” e adentrar o Zen? Todas as perguntas e incertezas desaparecerão.

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