sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A HISTÓRIA DO ZEN






CH’AN (ou ZEN) NA CHINA

Mais ou menos no ano 520, Bodhidharma cruzou o Oceano Índico, indo para a China. Sua chegada às terras do imperador Amarelo marcou o início do Ch’an e ele tomou-se o primeiro patriarca Chinês.

Embora diversas escolas do Budismo tenham sido criadas na China, muito antes de Bodhidharma chegar, sua reputação de renomado mestre de Dhyana antecedeu-o; por isso, o imperador Chinês Wu-ti (502-540), que era um budista devoto, convidou Bodhidharma para visitar o Palácio Imperial, a fim de transmitir seus ensinamentos. O Imperador tinha patrocinado a construção de muitos mosteiros e templos budistas e sustentado diversos mestres de várias seitas budistas. Segundo sua maneira de entender os ensinamentos, achava que, em conseqüência de tudo o que fazia, deveria ‘merecer’ um feliz e próspero reino, e ter o privilegio de reencarnar no lugar que os budistas chamam de "Nação Pura", onde, ao contrário da terra, todas as condições de vida conduziriam à realização da iluminação.

O imperador estava encantado por ter a oportunidade de encontrar um mestre profundamente iluminado e ansioso para conhecer suas realizações espirituais. Conta-se que, ao encontrar Bodhidharma o imperador perguntou:

"Tenho construído muitos templos, copiado inúmeros Sutras e ordenado muitos monges, desde que me tomei imperador. Portanto, pergunto-lhe: qual é o meu mérito?"

"Nenhum!", respondeu Bodhidharma.

O Imperador insistiu: "Por que não tenho mérito?"

Bodhidharma replicou: "Fazer as coisas para obter mérito tem um motivo impuro e só revelará o fruto mesquinho do renascimento."

O imperador, um tanto aborrecido, então, perguntou "Qual é o principio mais importante do Budismo?"

Ao que Bodhidharma respondeu: "Um grande vazio. Nada sagrado."

O imperador agora confuso e bastante indignado inquiriu: "Quem é este que está diante de mim?"

Bodhidharma falou: "Eu não sei."

Vendo que o Imperador não entendeu, Bodhidharma cruzou o rio para Shaolin, onde ficou em meditação durante nove anos, voltado para a parede de uma gruta.

Wu-ti, mais tarde, conversou com um de seus ministros Budistas sobre o encontro que tivera com Bodhidharma. O ministro perguntou: ‘Vossa Majestade imperial sabe quem é esta pessoa?’ O Imperador disse que não sabia. O ministro falou: ‘Ele é o Bodhisattva da compaixão portador do selo do coração de Buda.’ Cheio de arrependimento o Imperador quis chamar Bodhidharma de volta à corte, mas o ministro advertiu: ‘Ainda que você o mandasse buscar, ele não viria. Nem mesmo se todo o mundo, na China, fosse pedir-lhe.’ Ao mesmo tempo, Bodhidharma atraia um círculo de seguidores e, com o passar dos anos, confirmou’ Eka (o chinês Hui K’o) como seu próprio sucessor do Dharma.

Os mestres de Dhyana rapidamente descobriram que os chineses tinham um sistema contemplativo próprio nos ensinamentos de Lao-tsu’ e de Ch’ung-tsU (o qual se chama coletivamente de Taoísmo). A maneira simples de viver em harmonia com a vida, associada ao Taoísmo, está resumida no principio ‘Wu-wei’, que significa ‘não-fazer’ ou ‘não-esforço’ (no sentido de seguir as ilusões da mente). O texto clássico do Taoísmo, o Tao Te Ching, começa assim:

O Tao que pode ser contado não é o Tao eterno.
O nome que pode ser especificado não é o nome eterno.

O que não tem nome é o eternamente real.
Dar nomes é a origem de todas as coisas pessoais.

Livre do desejo, você compreende o mistério.
Apanhado em desejo, só vê as manifestações.

Embora mistério e manifestações surjam da mesma fonte.
Esta fonte chama-se escuridão.

Escuridão dentro da escuridão.
A porta de todo o entendimento.

As similaridades com o Dhyana Budista eram marcantes e, mais tarde, Ch‘an é impregnado pela influência do Taoísmo que, assim, deu a Ch’an seu sabor distinto. Veja, por exemplo, o Hsin Hsin Ming, escrito pelo Terceiro Patriarca, Sengstan (em japonês, Sosan) que assim começa:

O Grande caminho não é difícil
Para aqueles que não têm preferências.
Quando amor e ódio estão ausentes
Tudo se toma claro e indistinto.
Faça a menor distinção, entretanto,
E o céu e a terra serão infinitamente postos de lado.

Depois do Quarto Patriarca, Tao-hsin, os mestres do Ch’an começaram a construir e fundar mosteiros para treinamento e, quando chegou a época do Quinto, Hung-jen (601-704), já havia mil monges estudando na mesma área.



O SEXTO PATRIARCA

Um dos discípulos do mosteiro de Hung-jen era um camponês analfabeto que, depois, tomou-se o Sexto Patriarca. Seu nome era Hui-neng e, ao lado de Bodhidharma e Shakyamuni, é talvez o mestre mais renomado na história do Zen.

No relato biográfico de sua vida, o Sutra da Declaração de Prinelpios do Sexto Patriarca, conta como chegou até Hung-jen, de-pois de ter ficado todo iluminado ao escutar, por acaso, um monge ler oSutra do Diamante. Hung-jen, percebendo a sua Iluminação, colocou-o para trabalhar na cozinha, pois não queria criar uma situação embaraçosa para os monges mais velhos. Passaram-se oito meses até que Hung-jen chamou todos os monges para uma reunião e anunciou que, se algum deles pudesse compor uma poesia, explicando a essência do Zen, lhe seria dada a ‘transmissão’, e receberia o manto e a tigela do Sexto Patriarca. O favorito para o título era o monge-chefe, Shen-hsin. Ele escreveu o verso a seguir, sem assinar, na parede do mosteiro, altas horas da noite.

Nosso corpo é a árvore-Bodi
Nossa mente, um espelho brilhante.
Cuidadosamente nós os limpamos minuto a minuto
E não deixamos nenhuma poeira ali pousar.

Os outros monges ficaram maravilhados e decidiram que não poderia haver nada melhor. Entretanto, Hui-neng, passando pelo corredor, perguntou pelo verso que seria lido para ele (ele não sabia do teste de Hung-jen), e ditou seu próprio poema:

A árvore Bodi não existe
Nem sequer um espelho brilhante.
Já que tudo é vazio
Onde pode a poeira pousar?

Todos ficaram surpresos, e o mestre, reconhecendo que este era o trabalho de alguém que verdadeiramente entendeu a essência da mente, apagou-o, temendo que pudesse expor Hui-neng à indignação dos monges com ciúmes, por lealdade a Shen-hsui. Hui-neng tinha sido convocado para ver o mestre naquela mesma noite. Ele tinha recebido o manto e a tigela (que se dizia terem pertencido a Bodhidharma), e tinha sido avisado para seguir para o sul. Durante quinze anos, Hui-neng ficou no anonimato até decidir que já era a hora certa de revelar que ele era o Sexto Patriarca. A escola do Zen por ele fundada passou a ser conhecida comq Escola do Sudeste, e a de Shen-hsui — que aos poucos iria desaparecer —, como Escola do Nordeste.

Tal era a genialidade de Hui-neng que, com grande capacidade, transmitiu o Dharma para 43 sucessores! Daí em diante, apareceram muitas linhas diferentes de transmissão do Zen, sendo que essa foi a semente para o desenvolvimento das duas principais seitas Zen no Japão: a Soto e a Rinzai.

A Dinastia T’ang (620-906) foi a Idade de Ouro do Zen na China. Ela produziu grandes mestres, como Joshu (778-897) e Nansen (748-834), e as estórias e casos desses mestres foram reunidas em coleções como a Mumokan, Hekiganroku, Shoyoroku e Tetteki Tosui, e estudadas pelos discípulos do Zen até os dias de hoje. Um dos maiores professores e que gozou de maior influência, nessa época, foi Lin-Chi.


TRANSMISSÕES NA CHINA

29. Bodhidharma 30. Hui-k'o 31. Seng-ts'an 32. Tao-hsin 33. Hung-jen 34. Hui-neng
35. Ch'ing-yüan 36. Shih-t'ou 37. Yao-shan 38. Yün-yen 39. Tung-shan 40. Tao-ying
41. Tao-p'i 42. Kuan-chih 43. Yüan-kuan 44. Ta-yang 45. T'ou-tzu 46. Tao-k'ai
47. Tan-hsia 48. Wu-k'ung 49. Tsung-chüeh 50. Hsüe-tou 51. Ju-ching 52. Dôgen

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Extraído de "Elementos do Zen" de David Scott e Tony Doubleday
Extraído de "Denkôroku" de Keizan Zenji




O ZEN CHEGA AO JAPÃO


Antes de serem transmitidas para o Japão, as duas maiores escolas dominantes do Ch’an, na China, eram a que traçou sua linhagem a partir do Sexto Patriarca até Lin-chi e a que traçou sua linhagem revendo Ts’ao-shan Pen-chi (em japonês: Sozan Honjaku, 840-901) e Tung-shan Lian-chieh (em japonês: Tozan Ryokai, 807-869), então conhecida como Escola de Ts’ao-tung, na China. No Japão, essas duas escolas ficaram conhecidas como Rinzai e Soto, respectivamente. A Rinzaí foi introduzida primeiramente, no Japão, por Eisai (1141-1215), e a Soto, por Eihei Dogen Kigen, de quem já falamos.

Em 1184, Eisai construiu o primeiro templo do Zen no Japão. Chama-se Shofuku-ji e até hoje ainda existe. Mais tarde, mudou-se para a capital Imperial, Kyoto, onde a Escola Rinzai tornou-se firmemente estabelecida.

Entre os séculos XII e XIV, o Rinzai Zen passou a ser muito popular na classe dos Samurais que dominava o Japão. Os Samurais valorizaram a imediata praticabilidade do treinamento, que era adaptado para satisfazer as necessidades urgentes daqueles anos de turbulência. A coragem e a determinação dos guerreiros fizeram deles discípulos particularmente fortes. Abriram-se templos do Rinzai, em Kamakura, a capital militar, e o sistema nativo do ‘Guerreiro Zen’, com seu koan próprio, começou a se expandir. Nesse meio tempo, o Soto Zen desenvolveu-se independentemente da agitação política da capital.

Dogen nasceu em 1200. Seu pai morreu quando ele tinha dois anos, e sua mãe faleceu cinco anos depois. Com a idade de treze anos foi viver com um tio, um devoto do Budismo. A perda de seus pais e o incentivo de seu tio confirmaram a decisão do Dogen de tornar-se monge. Alguns anos mais tarde, foi para o mosteiro de Kenninjo, fundado por Eisai, e estudou com o sucessor do Dharma de Eisai, Myozen. Durante o tempo que ficou em Kenninjo, o Dogen completou seu treinamento na tradição Rinzai e recebeu o ‘Inka’, o selo de mestre. Apesar disso, não tinha resolvido satisfatoriamente seu dilema básico quanto ao significado da vida. Suas dúvidas levaram-no a empreender uma via3cm arriscada, para a China, em 1223. Uma vez lá, estudou com o Mestre Ju-ching (1163-1228) no mosteiro de T’ien-T’ung. Tudo leva a crer que o treinamento foi duro e, no início, não teve uma vida fácil por lá. Seu Dai-Kensho ocorreu da seguinte maneira:

Seguindo o exemplo do seu mestre, o Dogen se dedicou à prática do zazen noite e dia. De manhã cedo, enquanto dava seu giro costumeiro para fazer uma inspeção, no início do período do zazen formal, Ju-ching encontrou um dos monges cochilando. Repreendendo o monge, disse: ‘A prática do zazen é o deixar cair o corpo e a mente. O que você espera conseguir cochilando?’ Ao ouvir estas palavras, Dogen compreendeu a Iluminação, o olho de sua mente abriu-se completamente. Dirigindo-se para a sala de Ju-ching, a fim de ter sua Iluminação confirmada como genuína, o Dogen queimou um incenso e prostrou-se perante seu mestre.

‘O que você quer dizer com isto?’ perguntou Ju-ching.
‘Eu experimentei o deixar cair o corpo e a mente’, respondeu Dogen.
Ju-ching, vendo que a Iluminação do Dogen era genuína, disse por fim: ‘Você realmente deixou cair o corpo e a mente!’
Dogen, entretanto, insistiu em dizer: ‘Eu apenas acabei de compreender a Iluminação, não me aprove com tanta facilidade.’
‘Eu não estou o aprovando facilmente.’
Dogen, ainda insatisfeito, persistiu: ‘Em que você se baseia para dizer que não me aprovou facilmente?’
Ju-ching respondeu: ‘Corpo e mente caíram!’
Ouvindo isto, Dogen prostrou-se perante o mestre em profundo respeito e gratidão, mostrando que realmente havia transcendido sua mente discriminatória.

Extraído de Dogen Zen, por Yuho Yokoi.



Dogen voltou para o Japão em 1227, levando cópias de certos textos importantes do Soto Zen, muito embora tenha dito que regressou de ‘mãos vazias’. A essência fundamental do Zen, que ele agora ensinava, era que a prática ou atividade do dia-a-dia é a expressão da própria Iluminação. Por este motivo, começou a dar grande ênfase aos detalhes da atividade cotidiana, e encarou cada momento como uma oportunidade de expressar a gratidão pela natureza de Buda. Ganhou a reputação de se submeter a uma disciplina severa e de fazer críticas abertas às outras seitas budistas, inclusive ao Rinzai.

Em 1236, Dogen fundou seu próprio templo, e sua fama de mestre começou a se espalhar. Hoje ele é reverenciado como um

dos maiores gênios religiosos do Japão. Dogen não tinha nada cm comum com as lutas do poder aristocrático e militar do seu tempo e isto, combinado com sua insistência em afirmar que mulheres e homens eram igualmente capazes de realizar o Caminho de Buda, fez do Soto uma tradição realmente sem classes.

Os ensinamentos do Dogen teve um incomensurável impacto sobre o Zen japonês e nenhum discípulo bem intencionado poderá desprezar sua obra.

Não estaremos exagerando se dissermos que, após a introdução do Soto e do Rinzai no Japão, como escolas separadas, elas se desenvolveram e floresceram independentes uma da outra por quase 700 anos. Se o vigor dessas escolas foi firmemente mantido, através dos séculos, é um assunto que envolve certa controvérsia. O Zenji Hakuin, por exemplo, é considerado por toda a parte, no Japão, como o reformador do Rinzai Zen, no século XVII, que estava naquela época se tornando bastante ‘insípido’. Similarmente, os métodos de ensino de mestre Bankei separou os sistemas tradicionais completamente.

Durante todos estes anos, uma escola tem criticado a outra, e cada uma pode estar certa dentro de sua própria perspectiva. Os praticantes do Rinzai criticam seus congêneres do Soto por subestimarem a realização do Satori, e os últimos criticam os primeiros por não considerarem que a prática diária do Caminho não é nada mais do que realizar a Iluminação.

É preciso que alguém tenha a capacidade do próprio Dogen para obter a aprovação de mestre em uma tradição, e ainda reconhecer que existe algo a ser aprendido com a outra. Entretanto, foi precisamente isto que o Roshi Daiun Sogaku Harada (1872-1963) fez. O Roshi Yasutani, seu sucessor do Dharma, disse a respeito dele: ‘Embora ele próprio fosse da seita Soto, não conseguita encontrar um mestre verdadeiramente realizado naquela seita e, portanto, submeteu-se ao treinamento no Shogen-ji e, depois, no Nansen-ji, dois mosteiros Rinzai. Em Nansen-ji. finalmente, apoderou-se do segredo mais profundo do Zen, sob a orientação do Roshi Dokutan, um eminente mestre.’ Em conseqüência, os sucessores do Dharma do Roshi Harada usaram ambos os métodos de ensino, Soto e Rinzai, e argumentaram que assim procediam de uma maneira inovadora, tradicional e flexível.

Menciona-se tal fato devido à profunda influência que o Roshi Yasutani e outros dessa linhagem tiveram sobre o desenvolvimento do Zen no Ocidente.


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Extraído de "Elementos do Zen" de David Scott e Tony Doubleday




O ZEN CONTEMPORANEO NO OCIDENTE

Embora muitas vezes o associem às artes marciais, medicina alternativa, cozinha macrobiótica, manutenção de motocicleta etc., muitos ocidentais, pelo menos, já ouviram falar no Zen hoje em dia. Ele tem sido popularizado em filmes, música, artes e ficção, e não existem boas livrarias ou bibliotecas que não tenham, pelo menos, uma publicação sobre o assunto.

O trabalho pioneiro de D.T. Suzuki, Alan Watts e Christmas Humphries, juntamente com o intercâmbio cultural deste século, também tomou muito fácil, para diversas gerações de mestres Zen orientais, trazer o Dharma para o Ocidente.

Talvez por causa do relacionamento desenvolvido entre as forças americanas de ocupação e os nacionalistas japoneses, os primeiros mestres Zen do Japão que viajaram para o exterior foram inicialmente para a América do Norte. No início, reuniões informais conduzidas por Nyogen Senzaki e outros, despertaram um interesse nos retiros (sesshin) formais do Zen, sob a orientação, por exemplo, dos Roshis Shunryu Suzuki, Hakuin Yasutani e Soen Nakagawa. No início da década de setenta, centros de treinamento formal foram fundados na América para o Soto e o Rinzai Zen, bem como para o Ch’an chinês e o ‘Son’ coreano.

Como os monges japoneses Eisai e Dogen, que foram para a China e retomaram para o Japão com o Dharma, alguns ocidentais, interessados no Zen, foram para o Oriente, de lá regressando para fundar seus próprios centros de treinamento como satélites de mosteiros do Japão ou independentes. Entre estes estão o Roshi Jiyu Kennet, o Venerável Myoko-ni e o Roshi Philip Kapleau. Juntos, os discípulos americanos e europeus e os mestres japoneses no Ocidente, que concluíram seu próprio treinamento formal, representam uma geração de mestres Zen nativos, alguns dos quais agora têm seus próprios sucessores do Dharma.

Apesar de ainda estarmos nos primeiros anos de seu desenvolvimento, ficou claro que o Zen, no Ocidente, vai ser diferente de seus congêneres orientais. Isto se reflete nas expectativas dos próprios discípulos, seus mestres e no Dharma em si. Deste modo, assim como tem tido um notável crescimento, o Zen no Ocidente tem também experimentado muitos mal-entendidos e dificuldades: duras lições estão sendo aprendidas tanto pelos discípulos como pelos mestres.

Tem havido considerável experimentação com os métodos de ensino tradicionais, e um dos resultados é que os mestres ficaram mais dispostos a falar e explicar o Zen do que no passado. Mas há também diferenças de estilo marcantes com relação às várias linhagens que estão surgindo no Ocidente. Vejamos o Soto Zen, por exemplo; a escola franco-européia, fundada pelo Roshi Taisen Dshimaru (19141982), é muito diferente, na sua abordagem para treinamento, da britânica do Roshi Jiyu Kennet e da Ordem norte-americana dos budistas contemplativos.

Tudo isto é de esperar enquanto os mestres adaptam o treinamento para atender às necessidades dos discípulos. Uma impressão que se tem do Ch’an desenvolvido é de que se tornou reconhecidamente diferente dos sistemas do Budismo Mahayana de Dhyana, no qual teve origem. De maneira semelhante, o Soto e o Rinzai japoneses, conforme existem hoje, são muito diferentes das suas origens do século XII. Já que o Zen trata da valorização da vida, em vez da devoção a dogmas e credos específicos, suas formas européias e norte-americanas, com certeza, evoluirão com as conhecidas características da cultura ocidental.

É muito cedo para dizer que forma essas características finalmente vão tomar; porém, neste estágio, certas preocupações e temas parecem bastante comuns em várias escolas ocidentais do Zen. Resumidamente são:

1. Apesar de o Dogen insistir que homens e mulheres são igualmente capazes de realizar o Caminho, há uma diferença marcante entre o moderno Ocidente e o antigo Oriente quanto ao lugar e o status da mulher no treinamento Zen. A tendência no Ocidente tem sido não fazer distinção de sexo. Centros de treinamento, mosteiros, sesshin, acesso aos mestres, todos estão abertos para qualquer pessoa. Talvez, em conseqüência disso, haja muito mais mulheres procurando o treinamento Zen no Ocidente do que no Oriente.

2. A necessidade de, e a distinção entre treinamento leigo e monástico tem sido matéria para muita meditação e experimentação no Ocidente. Alguns mestres são muito severos nas suas exigências para com os discípulos que querem se tomar monges, ao passo que outros encaram como natural, para qualquer um que pratique a meditação regularmente, tomar-se monge, se assim o desejar. A distinção é também obscura porque não existe uma tradição muito difundida, no Ocidente, para os leigos manterem as comunidades monásticas. Isto significa que quase todos os monges Zen ocidentais têm de trabalhar, pelo menos por algum tempo, em tarefas comuns, para se manterem. Em conseqüência disso, nos centros Zen que ficam na cidade, mais do que nos mosteiros da zona rural, esta tem sido a regra. Onde centros de retiros monásticos foram fundados, a tendência é abrigar apenas pequenas comunidades residenciais, e a maior parte das pessoas ficar somente algumas semanas ou meses de cada vez.

3. Até que ponto o Zen ocidental deverá adotar as formas orientais nas quais o Zen está ‘condensado’ é um assunto que tem sido tratado amplamente, de diferentes maneiras. Algumas linhagens ocidentais têm feito um grande esforço para remover da prática todos os vestígios das origens orientais. Assim, todos os termos de referência, os Sutras e os cânticos têm sido traduzidos nos equivalentes próximos europeus, e têm sido adotadas formas de apresentação das tradições religiosas européias. Outras têm sido mais conservadoras, entretanto, limitando-se, por exemplo, a traduzir para o vernáculo somente certos cantos.

Os motivos para fazer ou deixar de fazer quaisquer modificações no tratamento oriental do Zen serão testados com o passar do tempo; alguns surgirão como bem sucedidos, outros serão desprezados como inadequados. Por enquanto, a escolha dos estilos de ensino e tradições disponíveis para o iniciante é muito grande, senão um pouco confusa. Talvez o melhor e mais imparcial conselho que possa ser dado é aquele certa vez oferecido pelo Zenji Dogen:

Mesmo as pessoas que estão no mundo profano devem se concentrar em uma coisa e aprendê-la o máximo possível, para poder realizá-la perante os outros, em vez de aprender muitas coisas, ao mesmo tempo, sem realizar verdadeiramente nenhuma delas. Isto é tanto mais válido para o Dharma de Buda, que transcende o mundo profano e nunca foi aprendido ou praticado a partir do começo sem começo. Nós ainda não estamos familiarizados com ele. Além disso, nossa capacidade é pobre. Se tentarmos aprender muitas coisas a respeito deste majestoso e ilimitado Dharma de Buda, não realizaremos nada. Mesmo que nos dediquemos a apenas uma coisa, devido a nossa natureza e capacidade inferiores, teremos dificuldade de esclarecer o Dharma de Buda completamente em uma vida. Discípulos, concentrem-se em uma coisa só..


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Extraído de "Elementos do Zen" de David Scott e Tony Doubleday

2 comentários:

  1. Parece-me muito interessante ao ponte de ter utilizado um poema do mestre Maetre Hsu-Yun num dos meus trabalhos artísticos.

    http://www.thierryferreira.com/
    http://thierryferreirahome.blogspot.com/

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